Hoje acordei em sonhos e muito cedo. Com a mente fixada no outro lado do rio Itapicuru Rua da usina, na primeira denominação que conhecíamos do tempo que o aeroporto de Caldas do Cipó, cidade distante 240 de Salvador-Bahia, tinha localização no Bairro Santos Dumont ou Campo da Aviação como era chamado e vulgarmente e de qualidade há logomarca de Outro Lado do Rio. Nem sei se era sonho, mas, alguém cantava e de longe trazida pelo vento uma voz em afirmar várias vezes que não passava pela Rua da Usina, mas, é certo que a voz silábica anunciava: eu não passo pela Rua da Usina.
Aumentava a proporção que meus sentidos iam dando forma de realidade. Levantando a cabeça logo após se avistar o mar daqui de minha janela, que traduz inclusive, a primeira olhada, pude enxergar meu filho Bruno Satana com a gaita que lhe é peculiar, numa das noites etílicas, cantando ao lado de Rafael Vilanova da Confraria Giramundo, que às vezes, aparece em casa e sempre na companhia dos primeiros biscoitos, primeiras novidades de alimentos sofisticados e depois na invasão natural da culinária de cá de casa, coisa que lhe é natural e de bom grado para a gente, mas, meu filho entoava a beira mar de Amaralina, a bela música de José Pavão: EU NUNCA PASSO PELA RUA DA USINA.
A música em casamento com o saudosismo até me trouxe a lembrança de tudo que está às margens do Itapicuru em seu curso do meio caminho entre Jacobina, sua nascente e Conde, sua desembocadura. Lembrei da cidade que muito chora meu filho mais novo, Breno Linconl, em um dia voltar e não estará longe tal proeza.
Lembrei de Caldas do Cipó do século passado, década de 30, aliás, lembrei de um recorte de Jornal de 04 de Agosto de 1936, de uma terça feira. Levantei e fui praticar leituras e ao mesmo tempo, pude transcrever para a leitura que faço em lembranças e concretizadas em dedos no computador num bom dia de sol e barulho das ondas que falam comigo na meditação do amanhecer.
Pude transcrever a notícia e algumas palavras não fiz mudanças de acordo com as orientações gramaticais dos dias atuais. A frase da chamada do jornal, coloco em letras diferenciadas:
"CIPÓ, O SEU TRISTE PASSADO, O SEU MAGNIFICO PRESENTE E O SEU GRANDIOSO FUTURO.
o texto começa dizendo que houve um tempo em que esta cidade vivia esquecida, abandonada, só se aventurando a visitá-la quem não tinha mesmo apego a vida ou quem tinha neste oásis do nordéste interesse muito grande que compensasse os riscos e desconfortos da viagem e da permanencia aqui. A estrada de Alagoinhas a Cipó só mesmo por irrisão tinha o nome de estrada, caminho que era ella a dos peores. E caminho perigoso, sujeitos que estavam todos os que se dispunham a percorre-lo ao encontro nada desejável com Lampião e seu bando. Aqui também a vida dos que procuravam os banhos thermaespara a saúde não estava nada segura. A ameaça do cangaço pesava sempre sobre a cidade, sem qualquer possibilidade de soccorro, dada a distancia que a separava das localidades populosas, distancia mais ainda augmentada pela situação quasi impraticável da única estrada. E Cipó pareceia condemnada a nunca passar do que era. Os governos se sucediam sem que qualquer delles procurasse solucionar os seus problemas. No entanto, este recanto privilegiado do sertão baiano tinha tudo para se tornar uma grande cidade. A natureza fora pródiga na distribuição de seus favores. Só faltava a mão do homem para que Cipó crescesse e chamasse para ela as atenções de todo Brasil. Mas, o tempo corria sem que um governo de visão se lembrasse daquele pedaço de terra bahiana.
Aí é a referencia do texto quando diz: CIPÓ, SEU TRISTE PASSADO.
Um dia, um sonhador deliberou enfrentar todas as dificuldades, vencer o temor, transpor os obstáculos, dominar o pessimismo geral e, demonstrando audácia incommum, transformar Cipó em uma estação balneária. Conseguiu autorização para explorar mediante certas obrigações, a água miraculosa que brotva quente da terra, pedindo que alguém a aproveitasse em bem do próprio homem. Esse alguém foi o Dr. Genésio Salles. Começou então a luta. Uma dificuldade vencida aqui, surgia adiante maior e mais terrível. O governo que devia, auxiliá-lo, parece que se comprazia em augmentar-lhe as barreiras. Lampíão conseguira fazer, da imprevidência e incuria dos governantes, o seu mais destemido e eficiente auxiliar. E o pessimismo começava também a vencer aquella alma de poeta que sonhava transformar uma cidade de caatinga em uma linda estação balneária. Cipó continuava a marcar passos; sem esperançasos seus habitantes de ver realidade os sonhos de Genésio Salles. O ânimo do lutador já se abatera.
UMA NOVA ERA...
Veio finalmente o movimento revolucionário e com elle a Bahia foi entregue ao governo discricionário de um quasi adolescente. Um dia falaram-lhe de Cipó e das suas águas maravilhosas. Falaram-lhe em Genésio Salles e na sua luta mal sucedida. E o jovem que a Bahia recebera com reserva e mesmo com prevenção, resolveu levar a effeito o que nenhum outro governo quizera ainda emprehender. Genésio Salles encontrou, no então tte. J. Magalhães, o animador da sua obra. Os recursos necessários para que Cipó se tornasse acessível foram fornecidos à cidade. O que era um caminho impraticável, tornou-se uma estrada magnífica. Lampião deixou de tornar-se uma ameaça, expulso que foi para terras distantes. Policiada se tornou toda a zona vasta do nordéste baiano. Cipó foi crescendo. Começaram a surgir os banhistas do Estado e de outras unidades federativas. Foi perdendo aquele aspecto de villa abandonada para tornar-se uma cidade confortável. A sua fama foi crescendo em proporção aos melhoramentos que recebia. O governador deu o exemplo, procurando-a para uma estação de repouso em companhia de sua família. E os banhistas foram crescendo em número. Os hotéis tornaram-se pequenos para conter, nas épocas preferidas, todos os que procuravam os benefícios da água maravilhosa.
Genésio Salles custava ainda a acreditar na realidade de seu sonho. Sábbado passado, acompanhando o senador Costa Rego, o capitão Juracy Magalhães voltou à visitar Cipó. A cidade recebeu-o como se recebe um grande bemfeitor. Engalanou-se e transbordante de alegria recebeu-o com demonstração de gratidão.Mas, o homem do governo não quiz visitar a cidade sem tomar conhecimento do que se tem feito em seu benefício. O prefeito local, esse jovem dynâmico que trocou o conforto do gabinete de uma secretaria de Estado pela modesta prefeitura de um município sertanejo, teve de submeter-se a uma verdadeira sabatinada, feita pelo governador visitante. Tudo o capitão Juracy Magalhães queria saber e de tudo pedia pormenores.
E uma pergunta o Dr. Oscar Caetano não deixou sem a resposta imediata e completa. Os esclarecimentos eram feitos com presteza e minuciosidade. Poude assim verificar o Capitão Juracy magalhães que não poderia entregar o governo do município a mãos mais capacitadas e empreendedoras. Effectivamente, o que já conseguiu, o prefeito local levar a effeito diante a sua administração, revela perfeitamente o seu tacto administrativo, a sua capacidade de trabalho.
Dentro de mais dois meses, quem vier a Cipó custará a acreditar que a cidade é a mesma, taes são os melhoramentos nella introduzidos. Não reconhecerá uma belíssima praça que se encontra em vias de conclusão, o descampado cheio de mato que ali existia. A grande taça jorrando água multicor não deixará recordar-se do lamaçal que havia naquele mesmo local. A pérgola com as suas trepadeiras e flôres, fará com que não possa mais relembrar dos montes de terra e capim que em seu lugarse erguiam mezes atráz.
Cipo estará irreconhecível. Será uma matuta que foi a metrópole e recebeu toda a garridice dos bons modos das moças da cidade.
Mas, não era justo que Cipó deixasse de prestar a seu grande benemérito um preito de gratidão e reconhecimento. Na sua visita à cidade, o governador Juracy Magalhães teve uma surpreza. Saudando-o o sr. Genésio Salles revelou-lhe que o povo cipoense querendo deixar gravado em bronze o seu reconhecimento, faria erigir naquella praça, que se chamaria Juracy Magalhães, o busto do governador que tanto fizera em seu benefício.
Fazendo essa combinação, o sr. Genésio Salles pronunciou comovido discurso, no qual, relatando o que fôra sua "via crucis", mostrou que Cipó continuaria ainda triste e abandonada, não fôra a decisão do governador que ali se encontrava, cujos benefícios tornaram captivos todos os que ali se encontravam.
Respondendo, o capitão Juracy Magalhães fez breve improviso, dizendo qual a sua norma de conducta à frente do governo e affirmando que não esmorecerá para que a Bahia possa conquistar o logar que lhe é próprio entre as unidades de federação, pelo seu progresso, pelo seu desenvolvimento, pelo seu prestígio." (Jornal Cidade do salvador- 1936)
Aumentava a proporção que meus sentidos iam dando forma de realidade. Levantando a cabeça logo após se avistar o mar daqui de minha janela, que traduz inclusive, a primeira olhada, pude enxergar meu filho Bruno Satana com a gaita que lhe é peculiar, numa das noites etílicas, cantando ao lado de Rafael Vilanova da Confraria Giramundo, que às vezes, aparece em casa e sempre na companhia dos primeiros biscoitos, primeiras novidades de alimentos sofisticados e depois na invasão natural da culinária de cá de casa, coisa que lhe é natural e de bom grado para a gente, mas, meu filho entoava a beira mar de Amaralina, a bela música de José Pavão: EU NUNCA PASSO PELA RUA DA USINA.
A música em casamento com o saudosismo até me trouxe a lembrança de tudo que está às margens do Itapicuru em seu curso do meio caminho entre Jacobina, sua nascente e Conde, sua desembocadura. Lembrei da cidade que muito chora meu filho mais novo, Breno Linconl, em um dia voltar e não estará longe tal proeza.
Lembrei de Caldas do Cipó do século passado, década de 30, aliás, lembrei de um recorte de Jornal de 04 de Agosto de 1936, de uma terça feira. Levantei e fui praticar leituras e ao mesmo tempo, pude transcrever para a leitura que faço em lembranças e concretizadas em dedos no computador num bom dia de sol e barulho das ondas que falam comigo na meditação do amanhecer.
Pude transcrever a notícia e algumas palavras não fiz mudanças de acordo com as orientações gramaticais dos dias atuais. A frase da chamada do jornal, coloco em letras diferenciadas:
"CIPÓ, O SEU TRISTE PASSADO, O SEU MAGNIFICO PRESENTE E O SEU GRANDIOSO FUTURO.
o texto começa dizendo que houve um tempo em que esta cidade vivia esquecida, abandonada, só se aventurando a visitá-la quem não tinha mesmo apego a vida ou quem tinha neste oásis do nordéste interesse muito grande que compensasse os riscos e desconfortos da viagem e da permanencia aqui. A estrada de Alagoinhas a Cipó só mesmo por irrisão tinha o nome de estrada, caminho que era ella a dos peores. E caminho perigoso, sujeitos que estavam todos os que se dispunham a percorre-lo ao encontro nada desejável com Lampião e seu bando. Aqui também a vida dos que procuravam os banhos thermaespara a saúde não estava nada segura. A ameaça do cangaço pesava sempre sobre a cidade, sem qualquer possibilidade de soccorro, dada a distancia que a separava das localidades populosas, distancia mais ainda augmentada pela situação quasi impraticável da única estrada. E Cipó pareceia condemnada a nunca passar do que era. Os governos se sucediam sem que qualquer delles procurasse solucionar os seus problemas. No entanto, este recanto privilegiado do sertão baiano tinha tudo para se tornar uma grande cidade. A natureza fora pródiga na distribuição de seus favores. Só faltava a mão do homem para que Cipó crescesse e chamasse para ela as atenções de todo Brasil. Mas, o tempo corria sem que um governo de visão se lembrasse daquele pedaço de terra bahiana.
Aí é a referencia do texto quando diz: CIPÓ, SEU TRISTE PASSADO.
Um dia, um sonhador deliberou enfrentar todas as dificuldades, vencer o temor, transpor os obstáculos, dominar o pessimismo geral e, demonstrando audácia incommum, transformar Cipó em uma estação balneária. Conseguiu autorização para explorar mediante certas obrigações, a água miraculosa que brotva quente da terra, pedindo que alguém a aproveitasse em bem do próprio homem. Esse alguém foi o Dr. Genésio Salles. Começou então a luta. Uma dificuldade vencida aqui, surgia adiante maior e mais terrível. O governo que devia, auxiliá-lo, parece que se comprazia em augmentar-lhe as barreiras. Lampíão conseguira fazer, da imprevidência e incuria dos governantes, o seu mais destemido e eficiente auxiliar. E o pessimismo começava também a vencer aquella alma de poeta que sonhava transformar uma cidade de caatinga em uma linda estação balneária. Cipó continuava a marcar passos; sem esperançasos seus habitantes de ver realidade os sonhos de Genésio Salles. O ânimo do lutador já se abatera.
UMA NOVA ERA...
Veio finalmente o movimento revolucionário e com elle a Bahia foi entregue ao governo discricionário de um quasi adolescente. Um dia falaram-lhe de Cipó e das suas águas maravilhosas. Falaram-lhe em Genésio Salles e na sua luta mal sucedida. E o jovem que a Bahia recebera com reserva e mesmo com prevenção, resolveu levar a effeito o que nenhum outro governo quizera ainda emprehender. Genésio Salles encontrou, no então tte. J. Magalhães, o animador da sua obra. Os recursos necessários para que Cipó se tornasse acessível foram fornecidos à cidade. O que era um caminho impraticável, tornou-se uma estrada magnífica. Lampião deixou de tornar-se uma ameaça, expulso que foi para terras distantes. Policiada se tornou toda a zona vasta do nordéste baiano. Cipó foi crescendo. Começaram a surgir os banhistas do Estado e de outras unidades federativas. Foi perdendo aquele aspecto de villa abandonada para tornar-se uma cidade confortável. A sua fama foi crescendo em proporção aos melhoramentos que recebia. O governador deu o exemplo, procurando-a para uma estação de repouso em companhia de sua família. E os banhistas foram crescendo em número. Os hotéis tornaram-se pequenos para conter, nas épocas preferidas, todos os que procuravam os benefícios da água maravilhosa.
Genésio Salles custava ainda a acreditar na realidade de seu sonho. Sábbado passado, acompanhando o senador Costa Rego, o capitão Juracy Magalhães voltou à visitar Cipó. A cidade recebeu-o como se recebe um grande bemfeitor. Engalanou-se e transbordante de alegria recebeu-o com demonstração de gratidão.Mas, o homem do governo não quiz visitar a cidade sem tomar conhecimento do que se tem feito em seu benefício. O prefeito local, esse jovem dynâmico que trocou o conforto do gabinete de uma secretaria de Estado pela modesta prefeitura de um município sertanejo, teve de submeter-se a uma verdadeira sabatinada, feita pelo governador visitante. Tudo o capitão Juracy Magalhães queria saber e de tudo pedia pormenores.
E uma pergunta o Dr. Oscar Caetano não deixou sem a resposta imediata e completa. Os esclarecimentos eram feitos com presteza e minuciosidade. Poude assim verificar o Capitão Juracy magalhães que não poderia entregar o governo do município a mãos mais capacitadas e empreendedoras. Effectivamente, o que já conseguiu, o prefeito local levar a effeito diante a sua administração, revela perfeitamente o seu tacto administrativo, a sua capacidade de trabalho.
Dentro de mais dois meses, quem vier a Cipó custará a acreditar que a cidade é a mesma, taes são os melhoramentos nella introduzidos. Não reconhecerá uma belíssima praça que se encontra em vias de conclusão, o descampado cheio de mato que ali existia. A grande taça jorrando água multicor não deixará recordar-se do lamaçal que havia naquele mesmo local. A pérgola com as suas trepadeiras e flôres, fará com que não possa mais relembrar dos montes de terra e capim que em seu lugarse erguiam mezes atráz.
Cipo estará irreconhecível. Será uma matuta que foi a metrópole e recebeu toda a garridice dos bons modos das moças da cidade.
Mas, não era justo que Cipó deixasse de prestar a seu grande benemérito um preito de gratidão e reconhecimento. Na sua visita à cidade, o governador Juracy Magalhães teve uma surpreza. Saudando-o o sr. Genésio Salles revelou-lhe que o povo cipoense querendo deixar gravado em bronze o seu reconhecimento, faria erigir naquella praça, que se chamaria Juracy Magalhães, o busto do governador que tanto fizera em seu benefício.
Fazendo essa combinação, o sr. Genésio Salles pronunciou comovido discurso, no qual, relatando o que fôra sua "via crucis", mostrou que Cipó continuaria ainda triste e abandonada, não fôra a decisão do governador que ali se encontrava, cujos benefícios tornaram captivos todos os que ali se encontravam.
Respondendo, o capitão Juracy Magalhães fez breve improviso, dizendo qual a sua norma de conducta à frente do governo e affirmando que não esmorecerá para que a Bahia possa conquistar o logar que lhe é próprio entre as unidades de federação, pelo seu progresso, pelo seu desenvolvimento, pelo seu prestígio." (Jornal Cidade do salvador- 1936)
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