26 de março de 2019

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TRADIÇÕES - QUILOMBOLAS NAS ORALIDADES TRANSVERSAIS

Paulo Cupan - QUILOMBOLAS NAS ORALIDADES TRANSVERSAIS Fragmentos - Noure...

QUILOMBOLAS NAS ORALIDADES TRANSVERSAIS

O diálogo a seguir entre Sr Antônio Cupan e seu filho Denlson, ambos afrodescentes em Cipó- Bahia, estabele importante fonte em torno das reflexões sobre o que é e como viviam os negros nas áreas ribeirinhas do Rio Quente e Itapicuru:

https://youtu.be/2jni2aCxxpg

Relata o Sr Paulo Cupan  - [Nossa família] foi criada aqui...aqui nos Caroço; nos Pau Branco. Meu avô era dos Pau branco... Vicente Cupan, conhecido né, in todo mundo, né, foi criado aqui no Cipó, no terreno de Dna. Sinharinha aqui de Heliberto. Ontonce, ele... minha mãe quando teve a Guerra dos Canudo e quando vieram a Força [guardas] de lá pra cá, tudo rebentado, tudo coisado, era vivo tiveram que descansar aqui... descansaram aqui. Descansaram e daí desceram pro... praí pra baixo, ela contava muito essa história. Eu, mas eu mesmo não alcancei não. O pai trabalhava cum... era aí pra baixo, era pro lado do Mosquito.. era... meu pai foi criado mais o Venceslau. O homem de quem ele era quase escravo era Venceslau... era o homem daí de baixo, daí deste lado do Mosquito. Outra história eu não posso contar que eu não sei não. Sr. Cupan continua [refere-se a seus familiares]... Minha tia, tia Duo, tia Durina moravam aqui na Rua do Cemitério [periferia da cidade], elas também trabalhou... tia Maria Cabocla, que é a irmã de pai, foi criada tudo lá nesse foco, sabe. Num sabe, Foi criada tudo lá, mais esse homem Venceslau.
Compadre Nonô mesmo tinha gente que cabeceava que foi criado com ele mesmo, tinha Dna Francisca, finado Barbosa, Dna. Mocinha... era tudo esse povo que a gente labutou com ele também com Dna Mocinha sabe... não foi como escravo. Eu [cheguei] a labutar com ela, seu Maninho, mas não foi como escravo, não. [ depoimento do sr. Paulo Cupan, dono hoje de olaria simples na Comunidade Quilombola da Várzea Grande]. Nesse momento seu filho o interrompe e entre os dois se estabelece o seguinte diálogo. __E trabalhar em troco de comida não era escravidão não, é? [Filho] __Não, mas naquele tempo o pobre era tudo escravo.[Pai] __ Mas num tinha dinheiro.[filho] __ Pobre! Pobre quem dominava era o rico.[pai] __Nesse tempo não tinha direito, não tinha nada. Era tipo escravidão mesmo. Eu trabalhava e recebia o quê? Dois litros de arroz, um quilo de farinha.[filho] __ [o pai retruca] não, mas naquele tempo tudo comia lá, lá mesmo dormia. Se fizesse uma coisa ruim ia pro tronco, amarrado assim [este se coloca encurvado e mostra]. __Libertado tá é hoje, antigamente não era libertado, não... antigamente era só escravidão.[filho] __ É assim, nós só veio ter liberdade de um tempo pra cá. De setenta anos pra cá... de oitenta anos pra cá. Mas antes era tudo na base da escravidão.[pai]

A DIFICULDADE DE COMEÇAR...






Começar é algo que sempre denota ansiedade. É a dificuldade visível aos olhos alheios e imaterial ao seu tempo de estréia. Há quem pronuncie que tantas e tantas vezes alimentou-se do palco e o calafrio fez-se presente em seu mundo. Com os dedos a deslizar no android, a digitar no teclado do computador ou no datilografar com vários deles quase que de uma só vez e, mais ainda, a bater com os cata piolhos na máquina de escrever é algo capaz de denunciar todos as maneiras e gestos de princípio.

O que assimilo nas leituras não é algo para citações artificiais, estímulos de certezas, fichamento das linhas lidas, salvar entre aspas sem esquecer fontes, claro. Entra em mente o que espontaneamente faz lembrar um dia e citar com elementos do senso comum a essência que fez assimilar com palavras quase que plagiadas e que não chegam ao absurdo por lembrar do autor. Nesse começo pude pegar um gancho de Michel Foucault a escrever que nos discursos  do dia a dia ou do momento de agora, gostaria de neles poder entrar sem se dar por isso. Segue Foucault que em vez de tomar a palavra, preferiria de estar à sua mercê e de ser levado muito para lá de todo o começo possível. Preferiria dar-me conta de que, no momento de falar, uma voz sem nome me precedia desde há muito. Isso! Todo começo dos escritos já deveriam ter ter pessoas na caravana do falar. Assim não haveria começo e o próprio Foucault anuncia que em vez de ser aquele de onde o discurso sai, estaria antes no acaso do seu curso, uma pequena lacuna, o ponto do seu possível desaparecimento.

Sei de uma coisa: difícil começar! Num trabalho técnico e de campo até fica mais fácil numa situação de não ser preciso ter lá adiante um grupo de pessoas na espreita para ouvirem o discurso de como foi feita a atividade profissional. Quando vou a campo, por exemplo, sei que devo levar o GPS, colocar coordenadas geográficas para definição precisa da rota, levar termo de vigilância genérico e outros formulários capazes de preencher demandas. É algo já mecânico e às vezes involuntários.

Lá se vão várias linhas e nenhum sinal de começo. Timidamente viajo nos tempos e chegam demandas de vivências. Pode até parecer fraqueza ou algum contratempo para dar tempo e tempero aos escritos. Acontece que não se faz cambiamento de pensamento e o eu individual nega qualquer empatia nesse momento de tensões pré digitações. Também não é desejo meu manifestar sensibilidades. Falando assim das dificuldades de começar algo nem me dei conta das lembranças que tenho sobre a primeira infância. Fui transferido de escola por entenderem que a mais central, urbanamente falando, dava mais suporte e que eu poderia servir como leitor de discursos infantis sobre os dias de comemorações cívicas da árvore, do índio, da independência, da bandeira e afins. Talvez esteja ai a gênesis dos traumas de iniciar discursos, leituras, diálogos. O ter que ir para um degrau maior intimida a voz e vem à tona o medo de  iniciar.


Sei que não comecei direito e ainda falta o pontapé inicial. Não obstante, um dia li de Cecília Meireles que basta um pequeno gesto e quem está ao alcance entende a essência gestual, assimila a intenção, adquire o todo. Nesse caso, hei de concordar que o motivo pelo qual escrevo: contar histórias de minhas vivências, nada foi feito e parece que não estou a criar esforços para iniciar e uma coisa vem em mente simbolizada pelo esforçar-se e tentar discorrer sobre a enorme quantidade de leituras dos caminhos percorridos nesse mundo de múltiplas inteligências.

Poderia ir até as dunas aqui de perto e do alto, como fazem aprendizes de pastor, gritar ou recitar em voz alta o que vem em mente e ao mesmo tempo gravar o que se passa no interior de minhas leituras. Assim seria um dever para ser digitado ao chegar em casa. Do alto dessas dunas de onde saem falsos, verdadeiros e modernos pastores, pode-se enxergar a avenida que tem o nome de Dorival Caymmi e ai, quiçá, possa ser que crie uma variante de expressão poética.

Outro dia, ao mesmo tempo que pude ouvir de uma amiga que escrever é tão complicado, viajei o espaço da mente e encontrei sintonia sem que antes, é claro, pudesse fazer o exercício do parar, sentar, respirar e meditar e o resultado apareceu como escrever torna-se fácil. Acredito que não tenha feito utilização desses ingredientes. Mal cheguei e já fiquei disposto em colocar os dedos à disposição para o digitar. Daí, até agora , quase que em círculos, girando a mente para extração dos contos , crônicas e leituras sobre meu mundo.

Na realidade tenho que começar. Pedirei ajuda. Temos que ter humildade mesmo sendo sabedores de que somos insubstituíveis sim, dado que cada um tem suas singularidades. Você ocupa uma função na instituição. Alguém pode ficar em seu lugar e nunca pensará e será o seu pensamento. Mesmo diante dessa insubstituição temos que contrair harmoniosas sugestões e dicas dos que enxergam nossas leituras. Preciso até registar em algum lugar para dar continuidade de um começo que ainda não pegou fôlego. Deixarei no blog até voltar a saber se não comecei com nonsenses.