O TEMPO (Noure Cruz)
Ah! O tempo.
Diz Mosé
Que ele corta nossa face
Sem navalhas.
Precisa apenas das horas
Que caminham em círculos
Que viajam em linha reta.
Com calma vai fazendo sulcos
Começando pelas laterais dos olhos.
A testa dobra em qualquer susto.
Eu não sei...
Perdi o referencial de idade
Estes dias olhei alguns alunos
Vinte, vinte e dois, vinte e sete
Trinta anos...
Olhei e enxerguei crianças
Por ter convivido com os mesmos
Em seus estudos colegiais
Acho todos jovens e são...
Sei lá!
Brincam comigo
Interajo de igual maneira
E me acho perfeito
No mundo deles.
Fico satisfeito
E sem distancia.
Não sei se é bom ou ruim.
Meus filhos mal curtem uma música
E, já me vejo nela.
Como na mesma situação
Entendemos a boa linguagem.
Muitos jovens amigos
Fazem questão de um dia
Curtir em casa
Por causa da boa propaganda de outros
Que já provaram de nossa juventude.
Dançar... Ouvir o que há de bom
De estilos, às vezes de vanguardas
Um teatro que se prestigia
Tudo! Tudo é este mundo que leio
E entendo que é o meu mundo.
É como se ficasse desgarrado por completo
Do tempo de meu tempo.
Mas, lá vem Mosé...
Falar o que já sei
Do corte sem navalha
Do tempo que me castiga.
Vejo aqueles que estão em meu tempo
Tempo de quarenta
Quarenta e cinco
Ou mais anos.
Posso saudá-los, sim
Mas, longe de mim a amizade do cotidiano.
Não consigo sentar
E curtir o diálogo do jogo
Do passarinho que cria
Do trabalho que tanto fala
Nem ouvir a mais pura das serestas
No La belle dejour...
Às vezes no trabalho de plantão
Quando não se está no exercício profissional
Interajo, ora com os que estão ao meu redor
Ora com os que possam está
Em conexão virtual.
Conto sempre uma história
Como argumento tipo, convincente
Que o momento das brigas
Dos companheiros em plantão
É na hora da ociosidade
Que no avanço das falas e, disse me disse
Vão às vias de fato.
Às vezes cola, ou não.
Estou agora fazendo este texto
E ouvindo Maglore em sua letra Demodé ou Às vezes um clichê!
Na frente já espera Cascadura
Ceu bem adiante
E Alceu um pouco lá atrás
E mais ainda Bob Dylan
E nos intervalos
Cantorias e regionalismo...
São certezas que fogem à regra.
Mas, deixa Mosé de lado e...
Vou me entendendo como posso
Naquilo que está ao meu lado.
Compartilhar a boa fala
Nas conveniências da vida
Com tempo para um amor plural
Com tempo para brincar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário